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22/07/2021

O Tempo - BH tem o menor número de novos bebês desde 2003

Crise econômica e pandemia do coronavírus fizeram famílias adiarem planos de ter filhos

A pandemia não provocou apenas um grande número de óbitos, fazendo com que 2021 possa ser o ano mais mortal da história do Brasil. A presença da Covid também está interferindo no número de nascimentos em Minas. A crise econômica e o medo do adoecimento fizeram com que muitas famílias esperassem por um momento de maior tranquilidade para gerarem filhos.

De acordo com a Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil), no primeiro semestre deste ano, os cartórios do Estado registraram 125.736 nascimentos, número 8,9% menor que a média de nascidos no Estado desde 2003, e 2,64% inferior que no ano passado. A queda em relação a 2019, período anterior à pandemia, foi de 6,76%.

Em Belo Horizonte, a redução no número de nascimentos foi ainda maior. A capital registrou o menor número de nascidos vivos em um primeiro semestre desde o início da série histórica em 2003. Até o final do mês de junho, foram registrados 14.746 nascimentos, 20,3% menos do que a média de nascidos no município desde 2003. Em relação ao ano passado, a redução foi de 3,3%.

Agnaldo Lopes, presidente da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), explica que as incertezas provocadas pela pandemia fizeram com que muitas mulheres não se sentissem seguras para seguir com uma gestação neste momento. “No início, não se sabia se havia uma transmissão vertical do vírus ou risco de malformação do feto, como acontece com o zika. Com o passar do tempo, vimos que esses riscos não se confirmaram, mas verificamos que as grávidas têm maior risco de mortalidade pela Covid, e os bebês podem sofrer com a prematuridade”, explica o médico, lembrando que, em abril, o Ministério da Saúde chegou a recomendar às mulheres que não ficassem grávidas no momento de pico da doença.

Outras epidemias, como de H1N1, em 2009, e zika, em 2015, também interferiram no planejamento das famílias. Conforme a situação sanitária melhora, os sonhos vão sendo retomados. A tendência é que isso aconteça nos próximos meses. “Em um cenário de pós-vacina, com maior segurança nos imunizantes que não são de vetor viral para gestantes, as mulheres vão se sentir mais seguras para engravidar”, diz Lopes.

Um exemplo de quem teve de adiar o sonho de ser mãe é a jornalista Aline Espírito Santo, 44. Em 2018, ela começou a fazer um tratamento de fertilização, mas, após a descoberta de um câncer, precisou adiar os planos. Até que em 2020, quando finalmente poderia retomar as tentativas, a pandemia a obrigou a fazer um novo adiamento. “Eu estava com a imunidade baixa e acabei pegando Covid. Com isso, tive alguns problemas e tive que adiar por questões de saúde”, conta a jornalista, que pretende ficar grávida, no máximo, até o ano que vem. 

DESEMPREGO TAMBÉM ADIA OS PLANOS

Não só a insegurança sanitária pode ter influenciado a queda do número de nascimentos em Minas. Como os números vêm caindo desde 2019, há um fator econômico que não pode ser desconsiderado. Para Mario Rodarte, especialista em demografia e professor da UFMG, a crise tende a interferir nas decisões das famílias, especialmente as monoparentais.

“A taxa de desemprego dos jovens é muito alta. Ela já estava elevada no pós-2015 e se agravou muito, chegando a um patamar recorde”, afirma o professor. A taxa de desemprego no país é de 14,7%, mas chega a quase 30% quando se observa apenas a faixa entre 18 e 24 anos. “Os jovens são o segmento da população com taxas de fecundidade maiores. Se perde o emprego, tem que esperar, porque crescem os gastos com um filho”, explica.

 

Fonte: O Tempo


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