Notícias

15/02/2018

Na era do bitcoin, o velho problema das heranças

NOVA YORK - Há cinco anos, Matthew Moody, de 26 anos, morreu em um acidente de avião quando sobrevoava um cânion em Chico, na Califórnia. Seu pai, Michael Moody, sabia que o filho estava minerando bitcoins — que hoje valem milhares de dólares cada um —, mas não tinha ideia quantos ou como encontrá-los. Michael Moody passou os últimos três anos procurando as respostas.

— Meu filho foi uma das primeiras pessoas a buscar bitcoins. Ele usava seu computador de casa para minerar bitcoins, quando isso era possível, e tinha alguns — disse Moddy, um engenheiro de softwares aposentado.

A natureza descentralizada e desregulada do bitcoin significa que, sem as senhas para ter acesso à carteira digital do seu filho, instalada no blockchain.info, Moody não tem como ter acesso a nenhum recurso. E é quase impossível descobrir se a pessoa tem centavos ou uma fortuna, já que as carteiras podem conter um número ilimitado de endereços únicos ou identificadores aos quais os bitcoins estão ligados. Sem o endereço, não é possível localizar cada uma das moedas digitais.

O bitcoin é uma moeda digital que, até agora, não está sujeita a regulações de nenhum governo ou banco central. As transações são feitas digitalmente, sem nenhum banco intermediar. Como o dinheiro em espécie, o bitcoin permite que os usuários gastem ou recebam os recursos de forma anônima, ou em grande parte anônima, através da internet. Milhares de computadores no mundo validam transações e adicionam novos bitcoins ao sistema. Existem outras moedas digitais, mas o bitcoin é a mais popular.

Blockchain.info não respondeu ao pedido de comentário sobre a questão.

— Não há autoridade à qual apelar para resolver isso. Essas moedas podem ser abandonadas — afirmou Nolan Bauerle, diretor de pesquisa de análises de criptomoedas do site da CoinDesk.

Entenda o que é bitcon 

O que é? 

É uma moeda virtual, considerada uma "criptomoeda", diante da utilização de protocolos de software tão complexos. É baseado na web e não está administrada por nenhum banco central, confiando em milhares de computadores no mundo que validam transações e adicionam novos bitcoins ao sistema. Assim, não há bancos intermediando as transações.

Moody disse que jovens empreendedores devem ser melhor preparados sobre as medidas que devem tomar para assegurar que seus investimentos estejam seguros, tanto para eles quanto para seus futuros herdeiros.

Nos anos 90, sua herança digital poderia ser formada apenas por emails, mas hoje se estende a senhas, arquivos de fotos, dados pessoais sob controle de anunciantes e redes sociais. E agora a criptomoedas. Questões sobre herança incluem as ofertas iniciais de moeda, que é o processo de levantar recursos de investidores ao oferecer “tokens” virtuais em vez de ações. Em 2017, foram levantados cerca de US$ 3,5 bilhões nessas operações, em um levantamento da CoinDesk.

A prática relativamente recente de ofertas iniciais de moeda significa que a legislação ainda precisa se adequar, o que deixa em aberto muitas questões sobre o direito sobre os tokens de uma pessoa quando ela morre. Mas, após um número de processos, legisladores nos Estados Unidos vão decidir em breve se um token adquirido a partir de uma oferta pode ser considerado como uma ação de uma oferta pública de ações.

Algumas empresas têm começado a fazer provisões. A CoinBase é um serviço de custódia, que detém as senhas de um cliente — o tipo de coisa que, se perdida, pode deixar bitcoins inacessíveis para sempre. Assim, oferece algum tipo de segurança no caso da morte do investidor. A companhia pede documentos como certificado de óbito para então transferir os ativos.
Não é uma solução que alguns entusiastas se animarão a usar, já que a ideia de alguém mais ter a custódia de bitcoins é antiética para a lógica descentralizada que marcou o ambiente anônimo das moedas digitais desde o início. A CoinBase também não respondeu aos pedidos de comentários.

A guarda das senhas privadas permanece o gargalo quando se trata de heranças de bitcoins. A startup Ledger levantou US$ 75 milhões em janeiro de investidores. Eles usam equipamentos para guardar senhas usadas para ter acesso e também gastar criptomoedas. É claro que se o herdeiro não encontrar o equipamento o problema permanece.
Ian Purton, diretor-executivo do StrongCoin, um serviço de carteira digital, disse que está é uma questão que surge com o amadurecimento da indústria e “as pessoas começar a se familiarizar com o que pode acontecer com suas carteiras digitais”:

— Quando começamos, a questão era como melhor proteger os bitcoins de hackers. Agora, nosso foco é em como proteger usuários que não sejam familiarizados com criptografia”.

Fonte: O Globo

•  Veja outras notícias