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    O substitutivo proposto por Zé Raimundo trouxe muitas diferenças em 
    relação à proposta original 
     
 A sessão de ontem foi considerada histórica, tanto por deputados 
    governistas como da oposição  
     
    O plenário da Assembleia Legislativa se uniu, ontem à noite, em um aplauso 
    entusiasmado de deputados e galerias, logo após o presidente Marcelo Nilo 
    (PDT) anunciar a aprovação por unanimidade do projeto que privatiza os 
    cartórios extrajudiciais na Bahia. A matéria, que foi alvo de muito estudo e 
    debate por parte dos parlamentares, cria a expectativa de solução para o 
    quadro caótico dos serviços prestados no estado e atende a uma determinação 
    do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) ao Tribunal de Justiça (TJ). A Bahia 
    era o único estado em que os cartórios faziam parte da estrutura do Poder 
    Judiciário. 
     
    O texto aprovado foi o substitutivo proposto pelo relator Zé Raimundo (PT), 
    que traz diferenças profundas em relação ao projeto original, enviado pela 
    então presidente do TJ, desembargadora Sílvia Zarif: de acordo com o 
    parecer, a privatização será imediata, cabendo aos atuais titulares dos 
    cartórios a opção de deixar o serviço público e continuar na titularidade, 
    como ente privado, ou manter-se no serviço público e ficar à disposição do 
    Tribunal. O projeto de Zarif previa a privatização paulatina, a partir da 
    vacância dos cargos. 
     
    CONSTITUCIONALIDADE 
     
    Preocupado com a constitucionalidade da matéria, o relator suprimiu todos os 
    artigos que tratavam de reajustes de taxas e emolumentos, assim como os que 
    regiam sobre a realização de serviços públicos, concentrando a matéria no 
    que tange à desestatização cartorial. Sob esse ponto de vista, o 
    substitutivo apresenta ainda a criação do Fundo de Compensação (Fecom), "de 
    caráter privado, destinado ao provimento da gratuidade dos atos praticados 
    pelos registradores civis de pessoas naturais, bem como promover compensação 
    financeira às serventias notariais e de registro que não atingirem 
    arrecadação necessária ao funcionamento e renda mínima do delegatário". O 
    Fecom será constituído de 23% da arrecadação a título de emolumentos. 
     
    A leitura do parecer de Zé Raimundo durou pouco mais de uma hora, durante a 
    qual, ele fez questão de historiar toda a tramitação da matéria, desde a 
    legislatura passada, quando foram realizadas várias reuniões e audiências 
    públicas. "Desde então, ficaram claras algumas tensões, explicitando-se 
    interesses conflitantes em torno da essência do projeto", disse. O 
    presidente Nilo designou, em maio deste ano, o petista para que proferisse o 
    parecer, tendo como prazo inicial o final dos trabalhos no primeiro 
    semestre. Mas ainda havia dúvidas e arestas a serem aparadas e os 
    parlamentares optaram pelo adiamento, com o compromisso de dar total 
    prioridade à sua votação, o que de fato foi cumprido. 
     
    COMISSÃO 
     
    Neste período, uma comissão de parlamentares realizou várias viagens para 
    conhecer a experiência de outros estados, além de fazer uma visita à 
    corregedora do CNJ, ministra Eliana Calmon. A comissão foi formada pelo 
    próprio Zé Raimundo, Carlos Geilson (PTN), Elmar Nascimento (PR), Leur 
    Lomanto Jr. (PMDB), Fabrício Falcão (PCdoB), João Bonfim (PDT), Joseildo 
    Ramos (PT), Mario Negromonte Jr. (PP), Paulo Azi (DEM), Sidelvan Nóbrega (PRB) 
    e os líderes do governo, Zé Neto (PT), e da oposição, Reinaldo Braga (PR). 
     
    Comprovando o envolvimento dos deputados em torno da proposição, muitos 
    foram os pronunciamentos definindo como histórica a data de ontem. 
    Sucederam-se na tribuna parlamentares como Reinaldo Braga, Zé Neto, Paulo 
    Azi, Leur Lomanto Jr., Elmar Nascimento, todos que acompanharam a tramitação 
    desde o início, em 2009. Outros como Mário Negromonte Jr. e o próprio Zé 
    Raimundo, deputados de primeiro mandato, também revelaram o entusiasmo com o 
    trabalho do Legislativo, sintetizado ao final pelo presidente Nilo, que 
    ressaltou o longo trabalho pela busca do consenso finalmente encontrado. 
     
    NÚMEROS 
     
    Segundo dados do Tribunal apresentados ontem pelo relator, existem hoje 
    1.461 cartórios extrajudiciais na Bahia, que arrecadaram R$ 138.593.716 no 
    ano passado. Apesar do faturamento, o saldo é negativo: no mesmo período, só 
    gastos com folha, descontados os encargos, o TJ arcou com R$ 178.537.23. 
    Ainda conforme Zé Raimundo, cerca de 200 cartórios apenas apresentam 
    equilíbrio financeiro, sendo os demais deficitários, daí a necessidade da 
    criação do fundo. Estão lotados 1.789 serventuários, dos quais 966 ficaram 
    em disponibilidade do TJ e 823 titulares que poderão optar pelo regime 
    privado ou continuar no serviço público. 
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