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    As alterações propostas pelo Senado ao texto do novo Código Florestal (EMS 
    1876/99) dificultaram nesta terça-feira o acordo para viabilizar a aprovação 
    da proposta ainda neste ano pela Câmara. Deputados de vários partidos 
    divergiram quanto às modificações feitas pelos senadores. Os líderes 
    decidiram nesta tarde marcar para 6 e 7 de março a votação do Código 
    Florestal na Câmara. 
     
    “Não podemos votar um projeto de lei sem saber sua abrangência e as 
    exigências que ele vai impor aos agricultores desse País”, disse o deputado 
    Ronaldo Caiado (DEM-GO), que propôs a reunião na Comissão de Agricultura, 
    Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural. 
     
    Ao citar dados da assessoria de gestão estratégica do Ministério da 
    Agricultura, o deputado afirmou que atualmente a área ocupada por atividades 
    agrosilvopastoris inserida em áreas de preservação permanente (APPs) e 
    Reservas Legais (RLs) corresponde a cerca de 65 milhões de hectares. Segundo 
    ele, caso seja implementada, a proposta do Senado, que prevê a recuperação 
    dessas áreas, elevaria para 519 milhões de hectares o total de áreas 
    preservadas no País, cerca de 61% do território nacional. “Esse texto do 
    Senado impõe exigências que dificilmente poderão ser cumpridas por boa parte 
    dos produtores rurais brasileiros”, sustentou. 
     
    Custos 
     
    Segundo Caiado, o custo médio para recuperar um hectare de área desmatada, 
    tomando como exemplo o estado de Santa Catarina, é de R$ 5 mil. Considerando 
    esse dado, ele explica que para recompor os 65 milhões de hectares seriam 
    necessários R$ 325 bilhões, o que representaria uma perda de receita anual 
    para o setor agropecuário da ordem de R$ 162 bilhões, o que equivale a 
    praticamente o valor bruto da produção agrícola brasileira em 2010, que foi 
    de R$ 160,3 bilhões. 
     
    O deputado Valdir Colatto (PMDB-SC) também alertou para os impactos que a 
    aprovação do novo código traria para a agricultura e a pecuária do País. 
    “Nós plantamos 56 milhões de hectares e temos mais 170 milhões [de hectares] 
    de pecuária”, disse Colatto. “É absolutamente inviável recuperar 65 milhões 
    de hectares e ainda assim continuarmos produzindo”, defendeu. 
     
    Sem radicalismos 
     
    Por outro lado, o deputado Assis do Couto (PT-PR) defendeu o texto do 
    Senado. Para ele, a proposta é uma alternativa entre o projeto (PL 1876/99) 
    e o texto aprovado pela Câmara. “O texto do Senado não radicaliza para 
    nenhum dos lados”, defendeu. 
     
    Assis do Couto informou que a Confederação Nacional dos Trabalhadores na 
    Agricultura (Contag) também é favorável à votação do texto do Senado ainda 
    em 2011. "Na minha avaliação, com a lei atual, temos uma posição muito 
    extremada, que dificilmente se aplica principalmente aos pequenos da 
    agricultura familiar. Por outro lado, o
    
    texto aprovado na Câmara vai para outro extremo. Entre esses dois 
    extremos, da legislação atual e da proposta aprovada na Câmara, eu avalio 
    que o Senado buscou meio-termo. E é nisso que estou apostando: aprovar o que 
    veio do Senado como uma alternativa." 
     
    Votação dos pontos consensuais  
     
    Diante do impasse, os deputados Reinhold Stephanes (PSD-PR) e Moreira Mendes 
    (PSD-RO) sugeriram uma tentativa de acordo para votar pelo menos os pontos 
    para os quais há consenso. “Devemos aproveitar o documento do deputado 
    Colatto e o de cooperativas para decidir o que modificar, permitindo o 
    acordo em torno de pelo menos 90% da proposta”, disse Stephanes, que já foi 
    ministro da Agricultura. Para o deputado, a indefinição está provocando 
    muita insegurança jurídica e alimentando a sensação de angústia dos 
    produtores rurais. 
     
    Por sua vez, Moreira Mendes, que é presidente da Frente Parlamentar da 
    Agropecuária, afirmou que não há mais espaço para discussões intermináveis 
    sobre o tema. “Precisamos votar os pontos para os quais há consenso, 
    deixando os demais para serem analisados separadamente por meio de 
    destaques”, afirmou. 
     
    Moreira Mendes defende a escolha de um parlamentar do PMDB para relatar o 
    Código Florestal. Segundo o deputado, as entidades agrícolas consultadas 
    pela frente são favoráveis à votação do código ainda neste ano. 
     
    Na avaliação do coordenador da Frente Parlamentar Ambientalista, deputado 
    Sarney Filho (PV-MA), as divergências na bancada ruralista impediram a 
    votação do código até o fim deste ano. "É importante que, primeiro, a Câmara 
    avalie como esse código chegou do Senado. Segundo, que as próprias forças do 
    ruralismo entrem em consenso. E tem também, por parte dos ambientalistas e 
    daqueles que não têm interesse mais imediato no assunto, uma vontade que o 
    tema seja serenado e que, no ano que vem, a gente possa votar com mais 
    calma." 
     
    Da parte do governo, a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, 
    disse que, se houvesse acordo entre os líderes partidários, o novo Código 
    Florestal poderia ser votado ainda neste ano. 
     
    
    Veja infográfico sobre as alterações no Código Florestal. 
     
    Continua: 
     
    
    Deputados criticam modificações feitas pelo Senado no Código Florestal 
     
    Íntegra da proposta: 
     
    
    EMS-1876/1999 
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