Gustavo Werneck - Estado de Minas
Imóvel do século 19, em Cocais, distrito de Barão de Cocais, na Região
Central de MG, precisa de R$ 500 mil para reforma
Sobrado é o único que restou da Vila Cocais e, como cartório, guardou
documentos, como o certificado da mina de ouro de Brucutu
Barão de Cocais – As chuvas e o abandono abriram feridas no patrimônio
cultural do distrito de Cocais, em Barão de Cocais, na Região Central de
Minas, a 93 quilômetros de Belo Horizonte. De frente para o Largo de
Santana, na área central, o Sobrado do Cartório, construído no século 19, dá
sinais de sua agonia ao exibir, no segundo pavimento, um rombo na parede de
pau-a-pique. Adquirido em julho do ano passado pela prefeitura local, e em
processo de tombamento pelo município, o prédio, devido ao avançado estado
de degradação, assusta vizinhos e preocupa a comunidade. O temor é de que,
com o desabamento, as casas laterais sejam atingidas e grande parte da
história da vila desapareça sob os escombros.
Sentada na porta de casa, apreciando a paisagem formada pelo gramado da
praça e o casario colonial, alguns cobertos de hera, Maria Lucília da
Fonseca, de 73 anos, diz que o sobrado, hoje com um amarelo desbotado, faz
parte do cartão-postal do distrito, que tem suas raízes no século 18, no
auge da mineração. “De uns tempos para cá, a situação dele piorou. Caiu uma
parte do telhado, depois a parede do lado direito. Era bem conservado,
quando ali morava a antiga proprietária. Ouvi dizer que vão consertá-lo”,
diz Maria Lucília, moradora da Rua José de Almeida Matias, e vizinha da
edificação. Um outro morador teme que o imóvel tenha o mesmo destino do
palacete do Barão de Cocais, que ficava ao lado da Igreja de Nossa Senhora
de Santana e foi demolido, para tristeza geral. “Estão acabando com um
conjunto arquitetônico que é o retrato da Minas colonial e pode representar
turismo e renda para a população”, lamenta.
Em contraste com a precária situação do casarão, uma placa reluzente,
colocada no passeio, informa que ele “pertenceu ao fazendeiro Fernando José
do Espírito Santo, conhecido como Fernando Tinoco”. E mais: “É o único
sobrado que restou da Vila de Cocais original, foi cartório de 1974 a 2005,
guardando documentos como o certificado de propriedade da mina de ouro de
Brucutu, que pertencia ao barão de Barbacena. Depois da demarcação dos
municípios, a mina passou a pertencer a São Gonçalo do Rio Abaixo”.
ESTEIOS PODRES O núcleo histórico de Cocais, datado do início do século 18 e
parte da Estrada Real (ER), é tombado pela prefeitura desde 2007, e a
próxima etapa será o tombamento individual do Sobrado do Cartório, informa a
arquiteta Carolina Moreira, da empresa Mindello, encarregada da elaboração
do dossiê. Nas pesquisas, a equipe verificou que o imóvel teve vários
proprietários desde Fernando Toco. Segundo a arquiteta, o sobrado merece ser
preservado, pois “é um exemplar assobradado que revela as soluções
arquitetônicas, técnicas, materiais e partidos adotados, no interior do
Brasil, desde meados do século 18 até o fim do século 20, implantados a
partir do antigo Caminho dos Diamantes da ER.
Segundo o secretário municipal de Obras de Barão de Cocais, Fernando Cesário
Bento, o casarão está numa situação de abandono “há muitos anos”,
apresentando os esteios podres. Obras de emergência ainda não foram feitas e
as providências para evitar a ruína do prédio serão tomadas depois da
temporada de chuvas. A estimativa é de que a reforma do prédio fique em R$
500 mil, diz Bento, informando que ainda não foi decidido o futuro uso do
sobrado.
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