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    Em audiência pública na Câmara, nesta terça-feira (2), o coordenador-geral 
    agrário do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), 
    Mauro Sérgio dos Santos, ressaltou que o governo não sabe ao certo a 
    quantidade de terras brasileiras que pertencem a estrangeiros. Segundo ele, 
    até 2010 “milhares e milhares de terras” foram adquiridas por empresas 
    nacionais com maioria de capital estrangeiro sem o controle do Estado. 
     
    Levantamento do Incra indica que, atualmente, 34.371 propriedades rurais 
    (4,5 milhões de hectares) pertencem a estrangeiros ou a empresas brasileiras 
    controladas por estrangeiros – a maior parte está no Mato Grosso. 
    Entretanto, segundo Santos, o número de propriedades é com certeza maior do 
    que o dado oficial. 
     
    O coordenador do Incra explicou que, em 2010, a Advocacia-Geral da União 
    (AGU) publicou um parecer obrigando as empresas nacionais controladas por 
    estrangeiros a registrar no Incra a compra de terras. Há 12 anos, essas 
    empresas estavam liberadas desse registro, devido a outro parecer da AGU, de 
    1998. 
     
    Controle 
     
    Santos e outros representantes do governo que participaram do debate, 
    promovido pela subcomissão que analisa o tema, defenderam a necessidade de 
    criar melhores mecanismos de controle desse tipo de negociação. A 
    subcomissão foi criada pela Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento 
    e Desenvolvimento Rural. 
     
    O coordenador de Acompanhamento e Promoção da Tecnologia Agropecuária do 
    Ministério da Agricultura, Roberto Lorena Santos, defendeu regras mais 
    claras. Para ele, a legislação deve levar em conta se a compra de terras por 
    estrangeiros afetará a segurança alimentar do País ou colocará em risco a 
    soberania nacional e o meio ambiente. 
     
    O consultor jurídico do Ministério do Desenvolvimento Agrário, André Augusto 
    Amaral, afirmou que a lei que regula a compra de terras por estrangeiros 
    (Lei 5.709/71) é boa, mas deve ser atualizada. “O problema dessa lei é que 
    ela não captura algumas situações da vida moderna. É importante que o 
    Congresso a modernize", disse. 
     
    Amaral sugeriu, por exemplo, que a legislação obrigue as juntas comerciais a 
    comunicar ao Incra quando uma empresa estrangeira comprar outra nacional que 
    possua propriedade rural no País. 
     
    Atualmente, a lei já exige que os cartórios de registro de imóveis enviem ao 
    Incra, a cada três meses, relatórios com informações sobre compra de terras 
    por pessoas físicas e jurídicas estrangeiras. A lei também determina que a 
    compra de área superior a 100 módulos de exploração indefinida (MEI) depende 
    de aprovação do Congresso Nacional – um módulo varia de 5 a 100 hectares, 
    dependendo do estado. 
     
    Marco legal 
     
    O presidente da subcomissão, deputado Homero Pereira (PR-MT), destacou que a 
    lei não é cumprida. Ele citou como exemplo um grupo empresarial argentino 
    que seria dono de 300 mil hectares no Mato Grosso e responsável pela maior 
    produção de soja do estado. 
     
    "Isso não está cadastrado. Eles deveriam ter pedido autorização para o Poder 
    Legislativo, mas não foi autorizado”, disse Pereira. “Imagino que isso 
    esteja acontecendo em todo o País." 
     
    O deputado defendeu a criação de um marco legal. Segundo ele, apesar de 
    haver um parecer da AGU tratando do assunto ainda existe insegurança 
    jurídica, o que prejudica investimentos estrangeiros no Brasil.  
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