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    O Supremo Tribunal Federal (STF) concluiu nesta quinta-feira o julgamento 
    sobre a união estável de casais do mesmo sexo. Os ministros garantiram aos 
    homossexuais os mesmos direitos dos heterossexuais. 
     
    Com o reconhecimento da união estável, os casais do mesmo sexo passam a ter 
    direito, por exemplo, a herança, pensão alimentícia, adoção e benefícios 
    previdenciários. Todos os ministros que votaram acompanharam o relator, 
    Ayres Britto. 
     
    A decisão do Supremo foi comemorada pelo presidente da Associação Brasileira 
    de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, Toni Reis. "É um 
    fato histórico o Supremo Tribunal Federal estar julgando essa questão. Acho 
    importante mostrar que, hoje, comparando um casal heterossexual e um casal 
    homossexual, nós temos 78 direitos negados à nossa comunidade", destacou. 
     
    Para o coordenador da Frente Parlamentar Mista pela Cidadania LGBT, deputado 
    Jean Wyllys (Psol-RJ), a decisão vai trazer avanços no campo cultural. "Na 
    verdade, eu acho que o impacto é maior do que a própria criminalização da 
    homofobia. É isso que transforma mais a sociedade. Garantir e assegurar o 
    acesso no campo do direito e não necessariamente a igualdade no campo 
    social, porque um preço que se paga por uma sociedade plural é uma certa 
    discriminação social. Essa sempre vai haver", disse. 
     
    Competência do Legislativo 
     
    Alguns parlamentares criticaram a decisão do Supremo sobre um tema que não é 
    regulamentado por lei, o que é papel do Congresso. A situação chegou a ser 
    reconhecida pelo ministro Gilmar Mendes. No entanto, ele concluiu que o STF 
    seria omisso caso não julgasse o caso. 
     
    A competência do Legislativo sobre a matéria foi observada também em uma das 
    ressalvas do voto do ministro Cezar Peluso. "Eu entendo que se aplica sim [a 
    união estável para homossexuais], com restrições. Quais são essas 
    restrições? Aplica-se naquilo que não for exclusivo da relação do homem com 
    uma mulher e, mais ainda, enquanto o Parlamento, o Congresso Nacional, não 
    regulamentar a matéria." 
     
    Coordenador da Frente Parlamentar Evangélica, o deputado João Campos 
    (PSDB-GO) foi um dos que lamentaram o que chamou de "ativismo jurídico" do 
    STF. Ele sustentou que a Constituição é clara ao definir a união estável 
    expressamente entre um homem e uma mulher. 
     
    Campos avalia que o dispositivo só pode ser alterado pelo Poder Legislativo. 
    "Se tem uma minoria da sociedade que deseja fazer um debate para mudar esse 
    conceito inscrito na Constituição, quem pode fazer isso? Só o Congresso 
    Nacional, alterado o texto constitucional, por meio de uma proposta de 
    emenda constitucional. Se a maioria do Congresso assim entender, certamente 
    a PEC será aprovada, estabelecendo um novo conceito", afirmou. 
     
    Doutrina cristã 
     
    Na mesma linha, o deputado Ronaldo Fonseca (PR-DF), que é advogado e pastor 
    evangélico, afirmou que as prerrogativas do Congresso foram deixadas de 
    lado. Fonseca ressaltou ainda que, do ponto de vista religioso, a decisão é 
    contrária à doutrina cristã. 
     
    "Como religioso, eu tenho que lamentar mais ainda. No Brasil, nós temos uma 
    cultura judaico-cristã. Mais de 80% desta nação é constituída de homens e 
    mulheres, de cidadãos e pessoas que têm fé cristã. Ora, a fé cristã nos dá 
    base para rejeitarmos uma outra modalidade de família, respeitando a 
    individualidade de qualquer pessoa: a modalidade de pessoas formada em cima 
    de uma união homoafetiva de homem com homem ou mulher com mulher." 
     
    Ronaldo Fonseca destacou ainda que não poder exercer o instituto da união 
    estável não caracteriza discriminação, uma vez que os homossexuais já têm 
    garantidos outros direitos, como a igualdade e a dignidade da pessoa humana, 
    além do direito à sociedade comum e à sociedade de fato. 
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