O Estado de Minas percorreu órgãos da prefeitura, estado e União em Belo
Horizonte e constatou que a demora no atendimento à população chega a duas
horas. Problemas vão de filas longas, burocracia e falta de informação de
funcionários até falta de papel higiênico e de acessibilidade nos banheiros

Eni Martins Lopes diz que sistema de senhas
é confuso
Vai precisar de algum atendimento em órgãos públicos de Belo Horizonte?
Então se prepare. Antes de sair de casa, respire fundo, conte até 10,
desmarque os compromissos, escolha a palavra cruzada mais desafiadora e leve
até o MP3 com longa programação de músicas de sua preferência porque a
espera é grande. O calvário para ser atendido em instituições vinculadas à
prefeitura, ao estado e à União exige doses extras de paciência para
suportar longas filas, a burocratização do serviço, a desinformação de
atendentes e a precariedade dos prédios onde os serviços são prestados. O
Estado de Minas foi conferir a qualidade do atendimento em seis desses
órgãos de BH e constatou: a demora pode ser de minutos em alguns locais, mas
pode chegar a horas em outros. E mesmo passando tanto tempo nesses
ambientes, a população ainda enfrenta o desconforto da falta de assentos, de
equipamentos de acessibilidade para portadores de necessidades especiais, de
telefones públicos e até mesmo de papel higiênico nos sanitários.
Na lista de reclamações, o Departamento de Trânsito de Minas Gerais
(Detran-MG) aparece na ponta. Na sequência, destacam-se como piores na
avaliação a Unidade de Atendimento Integrado (UAI) da Praça Sete, a
Previdência Social e a Receita Federal, onde a busca por serviços básicos
como carteiras de identidade, aposentadoria e regularização fiscal exigem
tolerância. Apenas o Núcleo de Cidadania da Câmara Municipal e a central de
atendimento BH Resolve, da prefeitura, passaram no crivo da avaliação por
operar com prazos toleráveis de espera. Esta última, apesar de contar com
estrutura nova, atendimento setorizado e número razoável de funcionários,
foi reprovada no quesito atendimento telefônico. As informações prestadas no
Disque 156 geram dúvidas ao usuário e são divergentes das repassadas no
serviço presencial e pela operadora do webchat.
Via crúcis logo na entrada
A proposta de reunir muitos serviços para quase 5 mil pessoas diariamente em
um posto no coração de Belo Horizonte é positiva, mas ainda é preciso
investir em melhorias para que os usuários que buscam atendimento na Unidade
de Atendimento Integrado (UAI), na Praça Sete, saiam satisfeitos do local.
Entre os usuários, há queixas a respeito da longa espera e da dificuldade de
calcular o tempo médio para atendimento, já que as senhas são diferenciadas
de acordo com o serviço. Para algumas demandas, como pedido de atestado de
antecedentes criminais, o usuário pode ter sorte e ser atendido
imediatamente em um dos três guichês destinados ao serviço. A situação
positiva pôde ser conferida pela reportagem, mas para quem queria dar
entrada na carteira de identidade a espera foi longa.
A via crucis tem início na entrada, onde a fila para receber a senha antes
de ser encaminhado para atendimento chega na porta do prédio. Depois de
direcionado ao setor específico, começa o teste de paciência: para serviços
como audiências de conciliação, o tempo médio de espera pode superar uma
hora e meia, segundo a Secretaria de Estado de Planejamento (Seplag),
responsável pela gestão da UAI Praça Sete. E apesar de ter operado em
outubro com uma média de 12 minutos para a emissão de carteiras de
identidade, usuários que estiveram na UAI na quinta-feira esperaram pelo
menos 40 minutos para ser atendidos.
“O Centro da cidade é um lugar onde qualquer pessoa tem algo para resolver,
mas a gente fica preso por causa das senhas. Não se pode sair para fazer um
lanche ou dar um telefonema, porque elas são confusas”, reclama a
supervisora de vendas Eni Martins Lopes, de 37 anos. Sobre o intervalo de
meia hora que levou para ser atendida, Eni pontua: “O tempo poderia ser
menor se os atendentes fossem mais comprometidos, muitos ficam fazendo
hora”, diz.
De acordo com a Seplag, o modelo de atendimento usa senhas diferenciadas por
demanda. “Cada serviço tem um prefixo (conjunto de duas letras e o número da
ordem de chegada do cidadão). Em uma mesma seção (saguão de um determinado
órgão) são atendidos vários serviços. Portanto, são chamadas várias senhas
com prefixos diferentes em um mesmo painel de senhas”, informou a
secretaria.
Servidores com pouco treinamento
“Nos últimos meses, o atendimento está um pouco melhor, mas ainda há muito o
que fazer”. É com essa impressão que o despachante Sérgio Luiz Alves de
Assis, de 40 anos, resume a experiência de 20 anos de relacionamento com a
Receita Federal, onde busca atendimento periodicamente. “Hoje, há uma
infraestrutura melhor. O prédio é mais moderno, amplo e confortável do que a
unidade da Avenida Afonso Pena, no Centro. Mas é preciso investir em
qualificação profissional, capacitar melhor os funcionários para que o
serviço seja otimizado e não se perca tanto tempo”, sugere o despachante.
Durante a passagem da reportagem pela unidade do Bairro Funcionários, o
tempo de espera foi de 10 minutos, já que não havia filas. Entretanto,
conforme Assis, o atendimento pode demorar até duas horas, dependendo do
horário. “À tarde é sempre mais tumultuado”, afirmou. Conforme a Receita
Federal, investimentos vêm sendo feitos no treinamento dos funcionários
desde que os serviços passaram a ser prestados no novo posto da Rua Levindo
Lopes.
Sem demora, mas telefone é ruim
Instalações confortáveis, com ar-condicionado, rampas, elevadores,
equipamentos de informática novos e muitos funcionários. Não é só a
estrutura física da central de atendimento BH Resolve que impressiona. Quem
busca os serviços da prefeitura e já carrega a impressão de que todo
atendimento público é ruim também se surpreende com o trabalho no local. Em
três momentos distintos, a reportagem do EM esteve no prédio localizado no
Centro da capital e encontrou ambiente limpo, agradável e sem filas.
Mas nem tudo são flores. Ao ser testado pela reportagem, o serviço
telefônico 156 do BH Resolve foi reprovado por prestar informações
incorretas sobre a aquisição de um alvará de microempreendedor individual. O
alerta já havia sido feito até mesmo por uma funcionária da unidade
presencial. “É melhor você vir aqui pessoalmente porque estão passando
muitas informações erradas pelo telefone”. De acordo com a gerente de
relacionamento da central telefônica, Soraia Cruz, o problema seria
averiguado. Segundo ela, os funcionários do call center são iniciantes no
mercado de trabalho e têm pouca experiência.
Burocracia para benefícios
Demora no atendimento e burocracia nos processos internos são itens
recorrentes na lista de reclamações dos usuários da do Instituto Nacional de
Previdência Social (INSS) em Belo Horizonte. Quem vai a uma das sete
unidades instaladas do órgão na capital ainda se queixa do longo tempo para
ter acesso a serviços básicos, como aposentadoria, auxílio-doença ou pensão.
Benefícios estes que são concedidos inclusive para pessoas doentes, com
mobilidade reduzida ou idosos que enfrentam dificuldades até mesmo para sair
de casa.
E mesmo depois do primeiro atendimento, o serviço continua desafiador.
Marcar uma perícia médica, por exemplo, pode demorar cerca de 20 dias,
conforme a servente Valquiria Souza Magalhães, de 46 anos, afastada do
trabalho desde setembro por problemas ortopédicos. Pelo telefone, o serviço
também é ruim, conforme o jardineiro Márcio Aurélio dos Santos Júnior, de 24
anos. “A ligação cai com frequencia e o sistema está sempre fora do ar. Já
era para ter feito meu agendamento há cinco dias, mas não consegui por
telefone”, disse enquanto aguardava atendimento na Agência Sul, no Centro da
capital.
De acordo com a chefe do serviço de atendimento da gerência executiva do
INSS em Belo Horizonte, Luciana Espíndola, a redução do tempo de marcação da
perícia ainda é um desafio. “A espera já foi de cinco dias e hoje tem ficado
em torno de 15 dias. O problema é que BH sofre interferência de municípios
vizinhos, como Betim, onde o prazo chega a 31 dias”, explica. Segundo ela, a
capital conta com cerca de 60 peritos e não tem déficit nessa área. Sobre a
queixa de burocracias para aprovação da perícia, relatada por usuários, a
gerente afirma que “nem sempre uma pessoa doente precisa necessariamente ser
afastada do trabalho”.
Atenção imediata e sem burocracia
Carteira de trabalho e de identidade, vagas de trabalho, seguro-desemprego,
acesso à internet e refeições a custo popular podem ser adquiridos sem
confusão no Núcleo de Cidadania da Câmara Municipal de Belo Horizonte. A
unidade, que conta com 62 funcionários, sendo metade cedida pelos órgãos
parceiros instalados no local (Sine, Procon, Juizado de Conciliação e
Restaurante Popular e o Posto de Identificação da Polícia Civil) funciona em
um ambiente de poucas salas, mas atende bem a população. Durante a visita da
reportagem o atendimento foi imediato para o pedido de informações sobre
carteira de identidade, documento que fica pronto em cinco dias úteis. Por
contar com poucos funcionários, a unidade trabalha com dois dias a mais do
que outros postos, onde a carteira pode ser pega em três dias. Para a
segunda via da carteira de trabalho, o tempo de espera foi de cinco minutos
e os dados foram repassados com precisão pelos funcionários. Por telefone, a
clareza dos atendentes a respeito dos serviços também deve ser reconhecida.
Paciência para duas horas de pé
Órgão que concentra as atividades referentes aos cerca de 1,4 milhão de
veículos e 900 mil motoristas só em BH, o Detran é classificado como de
péssima qualidade por quem precisa de seus serviços. Os problemas começam já
na entrada do prédio na Avenida João Pinheiro, no Centro, onde os usuários
precisam enfrentar longa fila de pé apenas para receber a senha de
atendimento, já que os 63 assentos são insuficientes. Para quem leva
acompanhantes o problema é ainda maior, pois eles precisam ficar do lado de
fora do setor de atendimento. “Vim com meu marido, que vai renovar a
carteira. Chegamos às 8h e só duas horas depois ele foi atendido. Fiquei em
pé todo esse tempo porque não há lugar para sentar”, conta a dona de casa
Lucineide Rosa da Silva, de 28 anos.
A advogada Brenda Guimarães, de 24, também reclama. “Há duas semanas, estive
aqui para renovar minha pauta. Esperei três horas, mas desisti porque ainda
havia cerca de 200 senhas na minha frente. É muita gente para pouco
funcionário. Além disso, não há triagem na distribuição de senhas para
atendimentos rápidos”, diz a advogada, que esperou 2 horas e 20 minutos para
ser atendida na sexta-feira.
Há também falhas referentes à acessibilidade. Os dois banheiros do 2º andar,
onde se concentra o atendimento ao público, têm um degrau que inviabiliza a
entrada de portadores de necessidades especiais. No feminino, uma das duas
cabines está fechada para manutenção e reclamações deixadas em um placa na
porta do sanitário denunciam que o problema ocorre há pelo menos nove meses.
“Até quando?”, questionou uma usuária em 22 de fevereiro. Em rápida
observação, a balconista Antônia de Jesus detectou outras falhas. “Não usei
o banheiro por falta de papel higiênico. A porta está com a fechadura
quebrada, há lixo espalhado e material de limpeza pelos cantos. Esta é a
primeira vez que venho aqui e vou levar uma péssima impressão”, pontua.
No Detran ainda há queixas sobre atrasos de documentos por erros de
informação. “Já era para ter recebido minha carteira há pelo menos 20 dias,
mas os examinadores não disseram que eu deveria preencher um formulário no
dia do exame de rua”, disse o vendedor Fernando Júnior, que gastou quase
toda a manhã de quinta-feira para resolver o problema. Para a designer Emi
Kyouho, que na sexta-feira desistiu do atendimento depois de esperar cerca
de uma hora, “é por causa da demora que muita gente não se regulariza”.
Insistentemente procurado pelo EM, o Detran, por meio de sua assessoria de
imprensa, não se posicionou sobre as críticas.
DETRAN
Av. João Pinheiro, 417 – Centro
Horário de funcionamento: das 8h às 17h
https://www.detrannet.mg.gov.br
Telefone: 155
SERVIÇOS
Emissão de Carteira Nacional de Habilitação (CNH)
Alteração de dados do condutor, entre outros
UAI
Unidade de Atendimento
Integrado – Posto Praça Sete
Av. Amazonas, 500 – Centro-Praça Sete
Horário de funcionamento: das 7h às 19h (segunda a sexta-feira) e das 8h às
14h (sábado), exceto Polícia Federal e Procon
Telefone: (31) 3272 -0108 / 3272-4845 / 3272-4779
www.mg.gov.br
uai.praca7@planejamento.mg.gov.br
SERVIÇOS
Emissão da carteira de identidade – 1ª e 2ª via
Emissão de atestado de antecedentes criminais, entre outros.
PREVIDÊNCIA SOCIAL
Barreiro
Avenida Tito Fulgêncio, 104
Floresta
Rua Pitangui, 2.052
Oeste
Rua Espírito Santo, 54, Centro
Padre Eustáquio
Rua Padre Eustáquio, 1.831
Santa Efigênia
Rua Tupinambás, 351, Centro
Sul
Avenida Afonso Pena, 342, Centro
Venda Nova
Av Dom Pedro I, 2.077
www.previdencia.gov.br
Telefone: 135
SERVIÇOS PRESTADOS
Aposentadoria por idade, tempo de contribuição e especial
Auxílio-doença, entre outros
RECEITA FEDERAL
R. Levindo Lopes, 357, Bairro Funcionários
Telefone: (31) 3546-9000 / Fax: (31) 3546 9102
Horário de funcionamento: 7h às 18h30
www.receita.fazenda.gov.br/
SERVIÇOS PRESTADOS
Cadastros CPF e CNPJ
Imposto de Renda – extrato e restituições, entre outros
SINE
(Unidade Câmara Municipal)
Avenida dos Andradas, 3.100, Santa Efigênia
Horário: Segunda a sexta-feira, 8h às 17h
Telefone: (31) 3555-1234 / 0800-7221599
Fax: (31) 3555-1299
cooass@cmbh.mg.gov.br.
SERVIÇOS PRESTADOS
Emissão de carteira de identidade
Emissão de carteira de trabalho, entre outros
BH RESOLVE
Central de Atendimento Integrado da Prefeitura de Belo Horizonte
Avenida Santos Dumont, 363 ou
Rua dos Caetés, 342, Centro
Horário de funcionamento:
2ª a 6ª das 8h às 19h
Telefone: 156
www.pbh.gov.br
http://chatpbhcenario1.pbh.gov.br/inicio.php
SERVIÇOS PRESTADOS
Procon
Dívida ativa, entre outros.
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