A subcomissão que analisa regras para a compra de terras por estrangeiros
prorrogou suas atividades até 23 de março próximo. O colegiado não conseguiu
encerrar seus trabalhos em 2011, em razão de um impasse entre o relator,
deputado Beto Faro (PT-PA), e o presidente da subcomissão, deputado Homero
Pereira (PSD-MT), que têm propostas divergentes.

A principal diferença das duas propostas se refere à classificação de
empresas brasileiras (proprietárias de imóveis rurais) com maioria de
capital estrangeiro. Beto Faro as classifica como empresas estrangeiras, com
uma série de limites para a aquisição de terras, e Homero Pereira as
considera empresas brasileiras, sem limites para aquisição de imóveis.
Veja
quadro comparativo
sobre as duas propostas e a legislação atual.
Nesse aspecto, o texto de Faro transforma em lei um parecer da
Advocacia-Geral da União (AGU) de agosto de 2010, atualmente em vigor. Um
outro parecer da AGU, que vigorou entre 1998 e 2010, liberava empresas
brasileiras com maioria de capital estrangeiro do registro de aquisição de
terras pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
Faro disse que a equiparação das empresas com maioria de capital estrangeiro
a empresas nacionais, no período da vigência do parecer anterior da AGU,
resultou em declínio da produção de alimentos básicos, como arroz e feijão,
e aumento de produtos de exportação como a soja e madeira para celulose.
Regra antiga
A proposta do presidente da subcomissão retoma o parecer antigo da AGU nesse
ponto (liberação para empresas brasileiras controladas por estrangeiros) e
proíbe a aquisição de terras por organizações não-governamentais, fundos
soberanos e fundações particulares administradas para estrangeiros.
“Uma empresa brasileira com capital estrangeiro não pode receber o mesmo
tratamento de empresas estrangeiras, porque ela está no Brasil, gerando
emprego para o País”, afirmou Homero Pereira. Diante da falta de acordo com
o relator, o deputado quer levar a discussão para a Comissão de Agricultura,
Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural, à qual a subcomissão é
ligada.
Consenso
Os dois deputados estiveram na Casa Civil para tentar acertar com o governo
um texto de consenso. Com a necessidade de aprovação da Desvinculação de
Receitas da União (DRU) pelo Congresso, em dezembro, a análise da compra de
terras ficou em segundo plano. “Optamos por fazer um trabalho conjunto com o
governo. Acreditávamos que isso seria mais produtivo. No entanto, o governo
não correspondeu às expectativas, e a demora só atrapalha investimentos no
País”, ressaltou Pereira.
Segundo Faro, não há motivos para adiantar a discussão. “Temos de costurar
um acordo para ter uma lei estabelecida. Não adianta precipitar, votar
logo”, disse.
Além dos textos dos deputados, tramitam na Câmara seis projetos de lei que
ampliam as restrições para esse tipo de compra. Uma proposta que limita a
aquisição de terras na Amazônia Legal já
foi aprovada pela Câmara
e enviada ao Senado.
Áreas em posse de estrangeiros
De acordo com dados do Incra de janeiro de 2011, estrangeiros tinham posse
de 4,5 milhões de hectares de terras no Brasil – área equivalente ao
território da Suíça ou do Rio Grande do Norte. O número em 2010 era de 4,35
milhões de hectares – houve aumento de 3,44%. Esses dados, porém, não são
precisos, por causa da subnotificação. O órgão estima que esse valor possa
ser até três vezes maior.
Essas terras estão distribuídas em 3.692 municípios, principalmente nos
estados de Mato Grosso (19,9% do total), São Paulo (11,9%), Minas Gerais
(11,3%) e Mato Grosso do Sul (10,8%). São Paulo é o estado com maior número
de propriedades em mãos estrangeiras: 12.272 imóveis rurais.
Conheça regras de outros países.
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