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    Em reunião onde foram debatidas as normas que os cartórios deverão seguir 
    para o armazenamento digital de documentos públicos, o juiz auxiliar do 
    Conselho Nacional de Justiça (CNJ) Marcelo Berthe fez um alerta aos 
    tabeliães da Amazônia Legal que, antecipadamente, vem migrando seus acervos 
    documentais (em papéis ou microfilmes) para meios inteiramente eletrônicos. 
    “Em breve, editaremos normas de preservação do documento em meio eletrônico. 
    Seria prudente aguardar a edição dessas normas, pois elas virão e deverão 
    ser seguidas. Essas pessoas se arriscam a fazer duas vezes o trabalho”, 
    afirmou o juiz coordenador da Comissão Especial para Gestão Documental do 
    Foro Extrajudicial, que dentro de 120 dias deverá propor ações que 
    recuperem, modernizem e garantam maior agilidade e segurança jurídica aos 
    atos de registro de imóveis.  
     
    Segundo o 5º Oficial de Registro de Imóveis de São Paulo, Sergio Jacomino, 
    milhares de livros de registro e indicadores estão sendo digitalizados em 
    formatos que não seguem qualquer critério ou padrão que garanta à Justiça e 
    ao cidadão os efeitos legais esperados. 
     
    “Estão vendendo digitalização sem garantir nenhum tipo de segurança – nem 
    jurídica, nem de preservação documental. E isso está acontecendo 
    descontroladamente. Sequer as normas baixadas pelo Conarq (Conselho Nacional 
    de Arquivos) vem sendo observadas. Não há qualquer segurança jurídica”, 
    disparou o registrador, membro da Comissão Especial.  
     
    Palestras- Na reunião desta segunda-feira (4/5), os membros da Comissão 
    Especial ouviram palestras do coordenador de Preservação da Fundação 
    Biblioteca Nacional, Jayme Spinelli Júnior, do especialista em Preservação 
    Digital Carlos Augusto Silva Ditadi, e do físico convidado Luis Fernando 
    Sayão, que apresentou o paradoxo da preservação digital. “Nos meios 
    tradicionais preservar significa manter imutável e intacto; no ambiente 
    digital, preservar representa mudar os formatos, renovar mídias, recriar 
    hardwares e softwares”, disse.  
     
    Jayme Spinelli apresentou à Comissão o Plano de Gestão de Risco para a 
    preservação dos conteúdos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. “Se 
    adaptado, não tenho a menor dúvida que pode servir para o acervo dos 
    cartórios de imóveis”, afirmou o especialista, que vê similitudes entre os 
    acervos, que trabalham basicamente com livros.  
     
    A Biblioteca Nacional tem quase 20 anos de trabalho de preservação digital e 
    já conta com um acervo em meios eletrônicos de boa parte de sua biblioteca.
     
     
    Após a reunião, o juiz Marcelo Berthe se disse ainda mais convencido de que 
    "é impossível abrir mão do documento físico (em papel)". “[Em meio digital] 
    O acesso aos documentos é mais fácil; os procedimentos ficam mais ágeis, mas 
    para mantermos a segurança jurídica esperada desses papéis não há formato 
    digital ainda tão seguro”, ponderou.  
     
    Na próxima reunião, agendada para o dia 26 (terça-feira), será a vez dos 
    registradores e tabeliães apresentarem seus desafios e contribuições sobre o 
    tema.  
     
    Insegurança - Os cartórios dos estados da região Norte foram escolhidos pela 
    Comissão Especial para iniciar o projeto pois. Além de totalizarem 61% do 
    território nacional, os nove estados se caracterizam pelos freqüentes e 
    violentos conflitos fundiários, causados muitas vezes pelo sistema caótico 
    de registro de imóveis. 
     
    “O registro de imóveis assegura a quem pertence os direitos sobre as terras 
    e até hoje esse sistema se baseia em papel. Na Amazônia, assim como em todo 
    o país, encontramos cartórios com livros se desfazendo, documentos 
    esfarelados, perdidos, e informações imprecisas. O sistema, como um todo, 
    não vem oferecendo a segurança que deveria”, apontou o juiz auxiliar da 
    presidência do CNJ e membro do Comitê de Assuntos Fundiários do CNJ Antonio 
    Carlos Alves Braga Junior.  
     
    Ao todo são 533 cartórios, distribuídos nos nove estados da região. Se as 
    ações nesses estados derem certo, o trabalho se replicará nas demais regiões 
    brasileiras. A medida faz parte do Plano Nacional de Modernização dos 
    Cartórios da Amazônia Legal, coordenado pelo CNJ.  
     
    Dentre as medidas que devem ser sugeridas pela Comissão, estão criação de 
    softwares; informatização de serviços; restauração de livros; capacitação de 
    servidores do Poder Judiciário e serventuários de cartórios e a elaboração 
    de repositórios digitais destinados ao arquivamento desses milhões de 
    documentos.  
     
    No ano passado, um Acordo de Cooperação firmado entre o CNJ e o Instituto 
    Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) disponibilizou R$ 10 
    milhões para custear pesquisa, compra de equipamentos de informática, 
    produção de software de registro eletrônico e a realização de cursos de 
    capacitação. 
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