Notícias

20/10/2025

Paracatu 227 anos: uma história viva pelos olhos de um tabelião apaixonado

Adailton Silva, do Cartório do 1º Ofício de Notas, em conversa com a Serjus-Anoreg/MG demonstra o amor pelo serviço extrajudicial na centenária Paracatu

Em Minas Gerais, onde a história se entrelaça com o cotidiano, a cidade de Paracatu, que vai do Ouro ao Pão de Queijo, celebra sua existência, são 227 anos completados no dia 20 de outubro. E, para marcar essa data, a Associação de Notários e Registradores de Minas Gerais (Serjus-Anoreg/MG) conversou com o tabelião do Cartório do 1º Ofício de Notas, Adailton Silva, carinhosamente conhecido como Didi, que há mais de quatro décadas testemunha e registra a alma desta terra. Em suas palavras, a sensibilidade de quem ama e serve se revela, pintando um quadro realista sobre o município e o povo paracatuense.

“Quando a gente ama um lugar, vai se tornando parte dele, como um misturar homogêneo de interesses, belezas, dores e compartilhamentos, aí, a gente vira um, confundindo-se já quase um no outro”, retrata o tabelião Didi, expressando a profunda conexão que sente com Paracatu. Sua jornada como tabelião é um testemunho da vida que pulsa no município, uma simbiose entre o ofício, o amor pelas artes e a música – paixões que, à primeira vista, poderiam parecer inconciliáveis, mas que em seu dia a dia se integram em um ser que busca a simplicidade, o amor e o serviço ao próximo.

As raízes da história: documentos que falam

Os cartórios, muitas vezes vistos como meros guardiões de papéis, são, na verdade, os verdadeiros cronistas da história. Didi, com sua paixão pela pesquisa, trouxe à luz documentos que revelam facetas esquecidas e, por vezes, dolorosas do passado de Paracatu.

Em suas mãos, o tabelião folheia livros antigos, revelando a riqueza histórica guardada em cada página. Do livro 65, de 1887, emerge um registro singular:

“Registro da Acta de apuração das eleições a 28 de Janeiro Último, neste 16º districto para membros da Assembleia Provincial”.

Segundo o notário, este documento, que remonta a um tempo em que Paracatu era distrito eleitoral da Província de Minas Gerais, é de grande relevância histórica, demonstrando o papel da cidade nos primórdios da formação política do estado.

Ele apresenta outro tesouro, do livro 57, de 1872, que revela uma escritura que transporta para o cenário econômico da época:

“Escriptura de hypotheca de devida obrigação que faz Bernardino da Costa Valle e sua mulher Dona Clementina Marra da Silva ao Reverendo Cônego Miguel Archanjo Torres, de uma Fazenda denominada Trombas, sita no município de Villa Formoza, da Província de Goyas, pela quantia de quatro contos e setenta mil reis, por ajuste de contas a prazo de quatro anos…”.

Mas é no livro 56, também de 1872, que se encontra um registro que apesar de mostrar a dura realidade da escravidão, também traz traços dos primeiros vislumbres de liberdade:

“Lançamento de uma carta de liberdade conferida aos Escravos Roberto Crioulo, Pascoal Crioulo, Aleixo Crioulo, Martinho Africaino e às escravas Michaela Crioula com seus filhos, = Herculano Quintino, Maria e Cecília Crioula com seus filhos Cristina e Viligtão e Rozária e Maria Crioula e sua filha Júlia, com as condições abaixo declaradas...”.

As condições dessa liberdade, como Didi ressalta, eram muitas vezes complexas e limitadoras:

“…e depois de minha morte, com a condição de servir a meus filhos por tempo de vinte e cinco annos e durante esse tempo não poderá servir a outro por ter esse destino…”.

O tabelião exalta a humanidade que permeia cada ato registrado. “Por trás de atos notariais há gente, lugares, sonhos, gritos lancinantes de socorro, paz em controvérsias que nossos arquivos guardam, como esses citados, abertos em sua ‘maioridade’ legal que ultrapassam os cem anos e os fizeram de direito público”, explicou.

Cartórios: pilares da sociedade e guardiões de vidas

Para Didi, os cartórios são muito mais do que meros escritórios. Eles são os pilares e vigas da sociedade, onde se registram os nascimentos e as mortes; as alegrias e as dores. “Os cartórios historiam nascimento, vida e morte, da alegria efusiva e incontida da escolha do nome de um recém-nascido à dor da certidão que registrou de alguém o óbito”, descreve.

E vai além, ao citar os atos da vida civil nas notas do tabelionato: “do veículo adquirido, da casa, do aluguel firmado, do contrato do arrendamento, da transação imobiliária; entre todos eles, deve postar-se incólume, independente e imparcial, o tabelião”, alertou Didi.

A sensibilidade do notário não se restringe aos documentos históricos, ela se manifesta no dia a dia do cartório e no contato com as pessoas. “Há alguns anos, percebi uma jovem senhora com uma tristeza no semblante, me aproximei e ofereci água. Mais calma, ela me disse que era juíza de direito e acabava de perder o marido, estando ali para os trâmites legais. Depois de uma breve e amigável conversa ela se foi... Passados dois dias, retornou ao cartório, com uma pequena estatueta esculpida de ‘empresário do ano’ e me ofertou, dizendo ter sido eu o único em sua dor, que a tratara com atenção especial e carinho. Segurei as lágrimas e agradeci”.

Essa experiência resume a visão de Adailton Silva sobre o papel do tabelião: ser um formalizador do direito, mas também um ser humano atento às necessidades e dores do próximo. “Quantas imprudências contidas, quantos rumos corrigidos, quantos ais minorados, quanta paz por um ato público em forma de cópia guardada, registrada, atos e atas resgatando direitos, mostrando a verdade”, concluiu.

Os tabeliães, como ele, são os protagonistas de uma trilha escrita que narra a história de uma cidade, como é de Didi com o município de Paracatu.

Um abraço de gratidão

Adailton Silva, o Didi, encerra a conversa com um abraço de gratidão à Serjus-Anoreg/MG, reconhecendo o trabalho da entidade em prol da classe. Em suas palavras, percebe-se não apenas o tabelião, mas um cidadão comum que ama servir e gosta, sem esforço, de gente. Sua história é a história de Paracatu, uma cidade que, através de seus registros e de seus filhos, continua a escrever seu futuro com a mesma paixão e sensibilidade que a moldaram ao longo dos séculos.

 

Fonte: Assessoria de Comunicação Serjus-Anoreg/MG


•  Veja outras notícias